Muita gente já disse que o presidente Jair Bolsonaro fala para um espectro específico da população brasileira. Nenhuma novidade. A novidade é que esse método peculiar funciona com eficácia, mesmo no pior momento do seu governo, até aqui.
Recente pesquisa CNT/MDA mostra que a reprovação do governo subiu de 31% para 43% em comparação com janeiro, mas a aprovação – apesar da pancadaria e dos deslizes – manteve-se, oscilando dentro da margem de erro de 2,2 pontos: passou de 34,5% para 32%.
Mais de um terço dos brasileiros considera o governo ótimo ou bom. O desempenho repete-se na última sondagem feita pelo DataPoder que apontou 30% de aprovação. Essa faixa pode ser chamada de fã do presidente.
Está com ele em qualquer circunstância. Mesmo quando Bolsonaro demite o mais simbólico dos ministros, Sérgio Moro. Permanece fiel apesar da lambança na Saúde, em meio à crise do novo coronavírus, e da autodemissão de Henrique Mandetta.
As última pesquisas também revelam uma metamorfose no perfil do eleitorado bolsonarista. O contingente de maior renda e escolaridade começou a perder a simpatia pelo governo, enquanto eleitores que só cursaram até o ensino fundamental e de baixa renda passaram a aprovar o presidente.
Essa migração tem um ponto de troca de marcha. A tumultuada saída de Sérgio Moro, de um lado, e o pagamento do coronavoucher, o auxílio de R$ 600 que socorre desempregados, informais e autônomos, do outro.
O avanço sobre as camadas mais pobres deu a Bolsonaro o primeiro impulso para vencer sua grande barreira eleitoral, o Nordeste, de forte presença do lulismo. Na região, a hostilidade caiu. Na pesquisa Vox Populi, feita a pedido do PT, Bolsonaro teve 35% positivo, 38% negativo e 24% regular. A mesma pesquisa em dezembro mostrava 42% de rejeição e apenas 22% de aprovação.
O desempenho de resistência presidente coincide com a desidratação político-eleitoral do ex-presidente Lula. Pesquisas internas do PT apontam que a avaliação negativa dos seus dois governos subiu e a positiva desceu.
Desde que deixou a prisão, quando vestia o manequim de falso perseguido, o petista já não empolga como antes e nem polariza o debate. Até suas lives arregimentam público escasso para quem já teve o tamanho político dele. Preso, Lula servia muito mais ao PT. Livre, hiberna.