Antes do mês de janeiro de 2019 chegar ao fim, o deputado federal Jean Willys (PSOL-RJ) renunciou o direito de tomar posse em fevereiro e deixou o Brasil. O autoexílio, segundo o polêmico parlamentar, tinha uma razão: a preservação da própria vida diante de ameaças de morte.
Fosse com qualquer brasileiro, a situação seria preocupante. Envolvendo um deputado constituído, um fato ainda mais grave a merecer mobilizações e reações. Não foi diferente, a decisão de Jean mereceu repercussão, solidariedade e protestos.
A revista Veja noticia que a ministra Damares Alves, dona de declarações e atuação igualmente polêmica, estaria para pedir demissão do governo. Motivo? Damares seria alvo de ameaças de morte.
Em público, hoje, durante entrevista à radio Jovem Pan, Damares descartou a saída do cargo, mas admitiu que vem sendo ameaçada ao ponto de precisar se mudar para um hotel cujo endereço mantido em sigilo é monitorado pelo Gabinete de Segurança Institucional.
No episódio de Willys, o seus adversários, a começar por parte da militância de Bolsonaro, ou ignoraram, fazendo pouco caso, ou debocharam dos argumentos do deputado para sua diáspora.
Agora, meses depois, o quadro, narrado pela ministra, certamente não será bandeira de protestos, seminários, debates, postagens, notas e campanhas nas redes sociais daqueles que se engajaram pelos direitos humanos do reconhecido ativista e militante LGBT.
Ministra, mulher, crente evangélica e conservadora, Damares não se encaixa no estereótipo definido, para os padrões atuais, como aquele que merece ser alvo de sororidade ou tema de luta social.
Os dois casos constatam. No Brasil, a repulsa contra intolerância e ódio depende do quem. Não do como e o quê. É muito mais uma questão de ideologia política de guetos do que uma convicção de formação humana, cidadã e social.