Sempre que posso, regresso ao Sertão. Há certo tempo, identifico uma mudança, reforçada nesse fim de semana em Marizópolis. A imagem é simples, mas diz muito. À noite, mesmo ainda cedo, calçadas vazias, ruas desertas.
A cena é o inverso de tempos recentes. As calçadas eram nossas praças, o ponto de encontro, a terapia da despedida do dia, antes do sono sagrado.
O silêncio das noites e as portas fechadas não são um novo costume. É prevenção, é a resposta imediata contra o medo. Ninguém quer arriscar mais ter a conversa interrompida por desconhecidos de motocicleta que assaltam sem cerimônia.
Quem tem algo para ser levado, um celular, um relógio ou dinheiro, fica com o trauma. Pior é a infelicidade ou má sorte de não apresentar nada para os donos do alheio. Aí, a inclemência ganha ares de tragédia.
Tragédia que abreviou a vida de Francisco de Assis dos Santos Filho, de 25 anos, morador do distrito de São Gonçalo, em Sousa. Ele seguia a pé quando fora abordado. Sem nada a levar, os bandidos não perderam a viagem. Atiraram, de espingarda, nas costas do rapaz.
Nesse fim de semana, esse era o assunto e consternação por lá. No comércio, na feira, e dentro de casa. Não mais nas calçadas à noite, agora esvaziadas.
“Aqui a gente dormia no meio da rua, a gente brincava, não tinha ninguém para perturbar e hoje se encontra desse jeito”, lamentou o vigia Francisco Flávio dos Santos, tio da vítima. A frase diz muito e retrata a metamorfose social de uma região.
Foi-se o tempo que a seca era o grande terror e mal a ferir sertanejos. Dela, a natureza dos fortes provou resistência. Mas, ao gatilho dos criminosos nem todos sobrevivem. Francisco é mais um entre tantos.
Com ele, mais uma calçada cala!